E depois logo se vê

No princípio era o verbo? Não, no princípio era o beijo. Tudo começa com esse momento mágico e irrepetível do primeiro beijo. Mas isso é depois de já se saber dar beijos, porque os primeiros resultam invariavelmente numa grande trapalhada.
O meu primeiro beijo foi horrível. Tinha 14 anos, e o meu namoradinho de escola , por quem pensava que estava apaixonada, surpreendeu-me quando me levou para trás da escola e encostou a sua boca à minha. Logo asseguir fugi!Senti-me enjoada e corei até chegar á sala de aula. Portanto este beijo não conta, só contam os que foram bons. É assim a contabilidade do amor. E percebi que não estava apaixonada por aquele rapaz, de outra forma aquele beijo teria sido outra coisa.

O PRIMEIRO beijo é como uma chave: está lá quase tudo. É uma espécie de radiografia ao coração e à alma do outro e também ao seu estado de espírito: se é tímido e meigo ou selvagem e arrebatado, se é discreto e contido ou se avança logo com a língua qual seta de cupido, se é calmo e suave ou agitado e nervoso, se é longo e oferecido ou rápido e fugidio, se é apaixonado com os braços em volta ou excitado com as mãos pelo corpo todo, se é de olhos abertos ou fechados e sobretudo se é bom, muito bom, ou óptimo, porque nisto do amor o óptimo é o maior inimigo do bom e uma pessoa não se deve contentar com menos.

 
O PRIMEIRO beijo é como aquele primeiro olhar que prende. Basta um instante para mudar a nossa vida e às vezes basta um beijo para uma pessoa querer logo casar com outra. Exagero ou não, acontece mais vezes do que desejamos admitir. O primeiro beijo é como o primeiro passo de dança. It takes two to tango e quem dançar melhor é quem ganha o concurso dos Alunos de Afrodite. A Afrodite é uma deusa exigente, quem não sabe dar beijos fica de fora, tal e qual como no jogo das cadeiras. E quem não sabe, deve aprender, porque saber dar beijos ainda faz mais falta do que ter um telemóvel ou um computador. 
Um homem que sabe dar bons beijos é imediatamente tomado como bom amante porque o beijo é como um cartão de visita: ou gostamos da textura e nos interessa o que tem impresso ou deitamos fora assim que esvaziamos os bolsos.

E, depois do primeiro beijo, devem vir logo mais cinco ou seis. Gosto particularmente daqueles beijos de despedida, quando ela abre a janela do carro e lhe pede só mais um, ou antes de adormecer, quando ele, já muito ensonado reclama: «Então não me dás um beijo?» 
Quando os homens reclamam estas coisas, é bom sinal. 
É sinal que gostam de nós e que no dia seguinte vão continuar a gostar.
Não me lembro quando foi o meu primeiro beijo bom, mas lembro-me de todos os beijos bons que dei. Quando se gosta de alguém, nunca enjoa, nunca farta, nunca é uma seca. É como ter uma fábrica sem trabalhadores sindicalizados que está sempre em produção, de segunda a sexta, sábados, domingos e feriados, faça chuva ou faça sol, de Verão ou de Inverno, em tempo de guerra ou de paz.

DAR beijos 
 é dar um bocado da nossa alma, é uma promessa de vida do nosso 
coração para outro coração ao qual queremos chegar com o nosso beijo. 
Na dúvida, vale sempre a pena dar. 
E, depois, logo se vê..



1 comentário