Um por todos

Há quem seja feliz com um parceiro fixo, seja ele resultado de um casamento estável, de um eterno namoro ou de uma coabitação sem papel passado, e há quem encontre o seu equilíbrio na diversidade de parceiros ou parceiras. Nas últimas décadas, as mulheres estão mais liberais quanto à escolha e ao número de parceiros, para grande espanto e incómodo dos homens para quem a igualdade dos sexos ainda mal chegou à vida pública, quanto mais passar á porta de casa.
Eu explico: por mais voltas que se dê à questão, em Portugal, país de machos latinos, um homem que tem muitas mulheres é um garanhão, um herói, um espertalhão. Já uma mulher com uma colecção vasta de parceiros é uma desequilibrada, uma maluca, uma vaca...
Porquê?
  Porque a educação católica só nos mostrou duas mulheres; a Maria, virgem mesmo depois de conceber, casta e por isso santa, e a Madalena, que era meretriz e se arrependeu depois de conhecer a palavra do Senhor e deu em santa também. Com parâmetros destes, de facto é difícil construir a imagem de uma mulher de carne e osso cujas virtudes de carácter não passem por uma conduta de freira.  

Conheço mulheres que são dadas a coleccionar casos como quem compra tops na Zara e que não são nem mais nem menos felizes do que outras, casadas com uns grandessíssimos chatos. As que conheço e que se sentem felizes são as que vivem uma relação plena com a pessoa com quem estão. E nesses casos não conheço nenhuma que dê umas voltas por fora. Com os homens, a coisa é diferente. Quantos não mantêm casamentos felizes à vista desarmada, com idas frequentes ao Elefante Branco, casos com colegas de trabalho e, não raro, paixões intensas por outras mulheres?
A livre escolha de parceiros é uma conquista feminina recente e ainda com uma factura a pagar. Uma mulher que teve no passado vários parceiros ou que mantém no presente uma colecção variada não é olhada pelos homens da mesma forma do que uma  ‘boazinha’, ainda que esta seja uma grande sonsa, o que é mais frequente do que os homens podem imaginar.
Mais uma vez, os homens não pensam com a lógica, mas com o medo. Nem sequer são capazes de perceber que uma mulher escolhe o seu parceiro com base no que já conheceu em outros homens e que essa selecção pode ser resultado de uma escolha consciente e acertada. Tal como os homens fazem com as mulheres quando as separam entre as ‘deusas’ – belas, perfeitas e intocáveis – e as ‘outras’, que são para dar umas voltas. Afinal, se eles nos catalogam, porque não podemos fazer o mesmo?

O ideal era encontrar um homem completo, que valesse por todos, para que o velho princípio dos três mosqueteiros reinasse: um por todos, em louvor da plenitude.

3 comentários

  1. Já reflecti muitas vezes sobre esse assunto*

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  2. E tens toda a razão. Adorei o post.

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  3. Omg! Não poderia estar mais de acordo com o que dizes!

    Infelizmente as mentalidades dos homens (de pessoas em geral), ainda é assim... Estamos em "tempos modernos" para tudo e mais alguma coisa, mas neste assunto não evoluiu nadinha :/

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